quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um Cadiquim de Cultura - Primavera de Praga

Apresentamos a segunda seção cultural do blog, novamente motivada por uma viagem e pelo ótimo guia que conseguimos em mais um Free Tour.

Não irei me delongar muito na conjuntura da época, mas sim na característica humana em que esta revolução se baseou.

Tudo se passou no famigerado ano de 68, que ainda é causa de nostalgia para muitos que o presenciaram! (é até chato falar, pela situação brasileira, mas que inveja! parece que foi um stick breakation da moléstia)

Então vamos lá, uma pequena introdução: A Tchecoslováquia, após a II guerra, fez parte do Pacto de Varsóvia, sob dominação da União Soviética, o que não era visto com bons olhos.

Insatisfeito e representando intelectuais comunistas, o tcheco Alexander Dubcek veio a frente do poder na Tchecoslováquia em janeiro de 1968 (final do inverno).
Seu governo foi marcado por uma diminuição na repressão, descentralização e relaxamento na liberdade de imprensa, indo contra os princípios dos outros países ao leste.

Esta época áurea durou quase toda a primaveira daquele ano. Parece que este poderia ser um socialismo com futuro, apesar de vários críticos afirmarem que a longo prazo estava fadado a sucumbir. Citando o wikipedia, Dubcek queria "provar a possibilidade de uma economia coletivizada conviver com ampla liberdade democrática".

Claro que os russos não gostaram. Aí que vem a parte interessante: a invasão de Praga por tanques do Pacto de Varsóvia em 20 de agosto de 1968.
Segundo nosso guia, os militares foram instruídos a reprimirem uma violenta revolução que tomava parte em Praga. No entanto, o que se encontrou por lá foram pessoas vivendo suas vidas na normalidade, indo ao trabalho, tomando uma pirigogela na maior paz (Aliás, ô povo que gosta de uma cervejinha! É na atual República Tcheca que consta a região de Bohemia, foi lá que foi criada a cerveja tipo Pilsen e já ouvi falar que possuem cervejas melhores que as alemãs).

Quando os tanques chegaram na imensa avenida Václavské Námest, os cidadãos de Praga ficaram atordoados, sem entender bulhufas do que estava acontecendo! Diz a lenda que os soviéticos ficaram até com vergonha da situação! Fomos informados pelo guia, inclusive, que existe uma foto hilária na internet, de uma velhinha xingando os militares, e estes com a mão no rosto de vergonha. Não encontrei.
Mas encontrei outras fotos que mostra pessoas normais vagando entre os trens, sem o menor sinal de violência.



Claro que os momentos de paz não duro muito tempo, e os tchecos começaram a se revoltar. Mas em sua grande maioria a revolução foi não violenta!
Dois dias depois da invasão iniciou-se uma greve geral. Além disso, os tchecos ficaram pregando traquinagens à la "Home Alone" com os soviéticos, dos jeitos mais engenhosos.
A organização da revolução se deu quase que instantânea, através de transmissores de rádios que davam instruções rápidas e saia do ar em seguida, quando entrava outra frequência com o mesmo propósito. Desta forma era impossível deles serem rastreados.

Os russos até tentaram enviar um potente equipamento para criar interferências, mas os ferroviários tchecos deram um jeito de atrasar a entrega até ele se tornar inutilizável.

Além desta peraltice, a mais famosa foi a alteração de placas de sinalização para confundir os soviéticos em suas idas a Praga.

Os protestos estavam dando certo até que Dubcek, que havia sido preso e levado para Moscow, foi convencido de que sua população estava sendo massacrada e se viu obrigado a assinar um acordo de renúncia.

Pelo que eu li, houve "apenas" 72 mortes durante os protestos, de tchecos mais radicais que quiseram partir para o confronto.

Outro fato marcante foi o suicídio de um estudante tcheco, o Jan Palach, que ateou fogo no próprio corpo em uma praça no início de 69.


Enfim, esta revolta me deixou perplecto. Que povinho interessante, não?

Que pena que a população tcheca acabou ficando desolada e desacreditada, como os personagens do tcheco Kafka, até a chegada de Mikhail Gorbatchev no governo russo no final da década de 80, que finalmente permitiu a abertura política no país.

Pergunto-me o que levou aos revolucionários a tomarem tais atitudes:

Será que este estudante suicida se sentiu como Gregor Samsa se sentiu em A Metamorfose, acreditando que havia se tornado insignificante para a sociedade ?

Será que a população da Tchecoslováquia tentou fazer a diferença, abraçando o conceito do Eterno Retorno de Nietzsche, exaltado explicitamente por Milan Kundera em sua obra prima A Insustentável Leveza do Ser, que por sinal se passa durante a Primavera de Praga?

Terá sido influência destes dois autores Tchecos?

Provavelmente não... Só estava querendo tirar um pouco de onda mesmo e, para isso, tive que consultar críticas na internet. Nunca seria capaz de fazer tais interpretações com uma simples leitura! :D

Mas bem interessante, não?

Genau!

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